domingo, 12 de abril de 2015

Resenha Crítica: "Quanto vale ou é por quilo?"

Escravidão, ONGs e desigualdades. Sim pode parecer que estou descrevendo a realidade brasileira, mas não é exatamente isso, na verdade é quase isso. As palavras definem o filme “Quanto vale ou é por quilo?” (2005), dirigido pelo cineasta ponta-grossense Sergio Bianchi e com o elenco composto por Leona Cavalli, Caio Blat e outros atores globais. Apesar de ser definido por muitos sites de cinema como do gênero drama, pode-se caracterizar este como um documentário dramático, já que em seu enredo a ficção se mistura com a realidade.
O filme não retrata apenas uma, mas várias histórias do passado e do presente que se misturam no decorrer do filme. Nos relatos do passado, são contadas histórias de escravos que compraram sua liberdade, que tentam fugir de seus donos brancos e de algumas injustiças que são cometidas contra eles. Apesar de estas histórias serem inseridas bem em meio a uma história fictícia, os relatos são reais, extraídos de arquivos nacionais e relatados através de um narrador e interpretação dos atores.
Nos relatos do presente, mostra algumas das principais realidades brasileiras através de seus personagens. Situações como assaltos, uso de menores para propagandas de TV, injustiça, dificuldades financeiras, sequestro e mortes encomendadas são quase que constantes no decorrer de toda a história.
Porém, a história que mais ganha destaque na história envolve Arminda (Ana Carbatti) e Ricardo (Caco Ciocler). Arminda é a única no filme que tem “visões realistas”, pois consegue enxergar todo o tipo de corrupção, injustiça e escravidão moderna que existe em sua volta. Ela é uma colaboradora que tenta conseguir computadores para sua comunidade através de uma empresa, sendo esta comandada por Ricardo. Acontece que ele não está focado nas ações sociais como defende nos eventos beneficentes, na verdade seu objetivo é mais lucrativo do que prestativo.
Só os fortes realmente entendem esse filme. “Quanto vale ou é por quilo” não é um filme que é simplesmente feito para se ver no fim de semana. Bianchi, como sempre, tenta trazer em seus filmes reflexões profundas sobre a sociedade capitalista atual. Podemos chegar a inúmeras conclusões depois de assistir esse filme, porém a principal delas é que sim a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Que no Brasil temos o direito de protestar é verdade, porém as consequencias sofridas por esse ato podem ser fatais. A personagem de Carbatti que o diga.
Além disso, é evidente o fato da escravidão brasileira ainda não ter acabado. Lazáro Ramos retrata em seu personagem o típico escravo do navio negreiro, navio este que terá uma longa viagem e seu destino será o sequestro do homem branco para acertar suas contas. Silvio Guindani, já mostra o escravo do dinheiro, aquele que é capaz de matar pela em nome do luxo e riqueza implorados pela sua esposa Leona Cavalli. Herson Capri e Caco Ciocler mostra os típicos vilões brancos escondidos atrás das suas máscaras de bonzinhos.
Além disso, Bianchi ainda deixa bem claro as diferenças (e semelhanças) sociais entre ricos e pobres. Ciocler e Capri representam os coronéis de fazendas, donos de escravos, com alto poder aquisitivo. Cláudia Mello, Leona Cavalli, Lázaro Ramos, Ana Carbatti e Silvio Guindani representam a situação da maioria da população brasileira: a luta pela conquista da liberdade (neste caso financeira). Com exceção de Arminda, todos os personagens tem uma semelhança: Todos querem conseguir seus objetivos as custas dos outros. Bem, a comparar pelo fato de haver apenas uma personagem honesta no filme, fica claro o fato de que a maioria dos brasileiros usam meios ilegais para atingir seus objetivos.
Além do mais, uma situação que é escondida hoje em dia, mas deve ser levada em consideração é a questão das ONGs. Sim, existem inúmeras Organizações Não Governamentais que ajudam inúmeras classe sociais, porém ONGs são grupos que visam ajudar sem fins lucrativos. Uma ONG deixa de ser ONG a partir do momento que visa o lucro pessoal e desenfreado. E acredite ou não, existem ONGs brasileiras que não estão tão preocupados com o bem-estar social.

Enfim, a produção cinematográfica de Bianchi me fez, com certeza, ter uma outra perspectiva da situação brasileira. Todos nós, vemos diariamente o filme de Bianchi de forma prática nas ruas, nas empresas e escolas, porém, a maioria de nós prefere continuar no comodismo e não fazer nada para tentar mudar nem que seja o mínimo da situação atual. Certas cenas e certos filmes não podem simplesmente ser vistas, porém devem ser enxergadas, analisadas e principalmente aplicadas no dia-a-dia brasileiro, pois não podemos ser “cidadãos comuns”, que não se envolvem na questão mais importante da vida: nossa própria vida.

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