Escravidão,
ONGs e desigualdades. Sim pode parecer que estou descrevendo a realidade brasileira,
mas não é exatamente isso, na verdade é quase isso. As palavras definem o filme
“Quanto vale ou é por quilo?” (2005), dirigido pelo cineasta ponta-grossense
Sergio Bianchi e com o elenco composto por Leona Cavalli, Caio Blat e outros
atores globais. Apesar de ser definido por muitos sites de cinema como do
gênero drama, pode-se caracterizar este como um documentário dramático, já que
em seu enredo a ficção se mistura com a realidade.
O
filme não retrata apenas uma, mas várias histórias do passado e do presente que
se misturam no decorrer do filme. Nos relatos do passado, são contadas histórias
de escravos que compraram sua liberdade, que tentam fugir de seus donos brancos
e de algumas injustiças que são cometidas contra eles. Apesar de estas histórias
serem inseridas bem em meio a uma história fictícia, os relatos são reais,
extraídos de arquivos nacionais e relatados através de um narrador e
interpretação dos atores.
Nos
relatos do presente, mostra algumas das principais realidades brasileiras
através de seus personagens. Situações como assaltos, uso de menores para
propagandas de TV, injustiça, dificuldades financeiras, sequestro e mortes
encomendadas são quase que constantes no decorrer de toda a história.
Porém,
a história que mais ganha destaque na história envolve Arminda (Ana Carbatti) e
Ricardo (Caco Ciocler). Arminda é a única no filme que tem “visões realistas”,
pois consegue enxergar todo o tipo de corrupção, injustiça e escravidão moderna
que existe em sua volta. Ela é uma colaboradora que tenta conseguir
computadores para sua comunidade através de uma empresa, sendo esta comandada
por Ricardo. Acontece que ele não está focado nas ações sociais como defende nos
eventos beneficentes, na verdade seu objetivo é mais lucrativo do que
prestativo.
Só
os fortes realmente entendem esse filme. “Quanto vale ou é por quilo” não é um
filme que é simplesmente feito para se ver no fim de semana. Bianchi, como
sempre, tenta trazer em seus filmes reflexões profundas sobre a sociedade capitalista
atual. Podemos chegar a inúmeras conclusões depois de assistir esse filme,
porém a principal delas é que sim a corda sempre arrebenta para o lado mais
fraco. Que no Brasil temos o direito de protestar é verdade, porém as
consequencias sofridas por esse ato podem ser fatais. A personagem de Carbatti
que o diga.
Além
disso, é evidente o fato da escravidão brasileira ainda não ter acabado. Lazáro
Ramos retrata em seu personagem o típico escravo do navio negreiro, navio este
que terá uma longa viagem e seu destino será o sequestro do homem branco para
acertar suas contas. Silvio Guindani, já mostra o escravo do dinheiro, aquele
que é capaz de matar pela em nome do luxo e riqueza implorados pela sua esposa
Leona Cavalli. Herson Capri e Caco Ciocler mostra os típicos vilões brancos
escondidos atrás das suas máscaras de bonzinhos.
Além
disso, Bianchi ainda deixa bem claro as diferenças (e semelhanças) sociais
entre ricos e pobres. Ciocler e Capri representam os coronéis de fazendas,
donos de escravos, com alto poder aquisitivo. Cláudia Mello, Leona Cavalli,
Lázaro Ramos, Ana Carbatti e Silvio Guindani representam a situação da maioria
da população brasileira: a luta pela conquista da liberdade (neste caso
financeira). Com exceção de Arminda, todos os personagens tem uma semelhança:
Todos querem conseguir seus objetivos as custas dos outros. Bem, a comparar
pelo fato de haver apenas uma personagem honesta no filme, fica claro o fato de
que a maioria dos brasileiros usam meios ilegais para atingir seus objetivos.
Além
do mais, uma situação que é escondida hoje em dia, mas deve ser levada em
consideração é a questão das ONGs. Sim, existem inúmeras Organizações Não
Governamentais que ajudam inúmeras classe sociais, porém ONGs são grupos que
visam ajudar sem fins lucrativos. Uma ONG deixa de ser ONG a partir do momento
que visa o lucro pessoal e desenfreado. E acredite ou não, existem ONGs
brasileiras que não estão tão preocupados com o bem-estar social.
Enfim,
a produção cinematográfica de Bianchi me fez, com certeza, ter uma outra
perspectiva da situação brasileira. Todos nós, vemos diariamente o filme de
Bianchi de forma prática nas ruas, nas empresas e escolas, porém, a maioria de
nós prefere continuar no comodismo e não fazer nada para tentar mudar nem que
seja o mínimo da situação atual. Certas cenas e certos filmes não podem
simplesmente ser vistas, porém devem ser enxergadas, analisadas e
principalmente aplicadas no dia-a-dia brasileiro, pois não podemos ser “cidadãos
comuns”, que não se envolvem na questão mais importante da vida: nossa própria
vida.